Até onde você iria por amor à alguma coisa ou amor por alguém?
Por amor incondicional a um esporte, até onde você iria? Que sacrifícios estaria disposto a correr, enfrentar e aguentar, por esse amor ao esporte ou a alguém? Quais as consequências e recompensas desse amor? Quais os limites físicos e psicológicos que você se dispõe a lutar?
São perguntas que vem à mente quando se ama muito uma coisa, quando se ama muito um esporte ou se ama bastante uma pessoa querida.
Eu diria que se for alguma coisa preciosa que valha a pena lutar, então lute por ela, mesmo ciente de que a vida, na realidade, é diferente do mundo sonhado e idealizado. Todavia, “a vida sem sonhos é um vazio sem fim” (MM Thoughts, p. 54). Então, sonhe e lute pelo que você ama (de verdade!), pelo que vem do fundo da alma e do coração.
Relendo o livro de Machado de Assis, “MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS” — obra machadiana riquíssima —, compartilho, por oportuno, essas belas passagens sobre o tema “vida é luta”, na parte de conselhos (no sentido de sacudir a moral e o mental/astral) do filósofo Quincas Borba ao Brás Cubas, na iminência deste último escorregar na “ladeira fatal da melancolia”:
“Mas esse filósofo, com o elevado tino de que dispunha, bradou-me que eu ia escorregando na ladeira fatal da melancolia.
— Meu caro Brás Cubas, não te deixes vencer desses vapores. Que diacho! É preciso ser homem! Ser forte! Lutar! Vencer! Brilhar! Influir! Dominar!
(…)
TRATA DE SABOREAR A VIDA, e fica sabendo que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca, acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la.
(…)
— Lutar. Podes escachá-los ou não; o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.” (ob. citada, págs. 185 e 190 – grifou-se e destacou-se).”
Então, quais os limites do amor? Quais os limites da luta pelo que se ama e se sonha? Até onde você iria por amor? Se for um amor ilimitado, ele não terá mesmo limites ou é preciso impor limites e fronteiras bem delimitadas, pré-estabelecidas?
Creio que os limites do amor — dificílimos de se medir e avaliar bem — sejam a própria voz da consciência e do seu eu interior, no sentido de refletir, serenamente, o que esse amor lhe traz de benefícios, bem-estar e alegria.
Esse amor supera a dor que você sente por amar tanto essa coisa também?
Quais as recompensas advindas desse amor, mesmo que haja pequenos infortúnios no caminho? Vale a pena continuar a lutar por esse amor e seguir percorrendo nesse caminho escolhido? Esse caminho tem coração?
Se as respostas às indagações acima forem afirmativas, você escutou a sua alma e o seu coração, fazendo uma escolha, no mínimo, verdadeira para si mesmo. Fez o que deveria ser feito — evitando a dor no peito —, lembrando que “o amor não faz mal ao próximo”. “De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:10 – Novo Testamento).
Já ouvimos inúmeras histórias verídicas (e sensacionais!) de superação no esporte e na vida, nas quais os atletas e/ou as pessoas envolvidas foram movidas simplesmente pelo amor puro e pelo prazer ao esporte praticado.
Vale recordar aqui o caso surreal daquela brava e corajosa surfista profissional havaiana, Bethany Meilani Hamilton: mesmo após perder o braço esquerdo em decorrência de um ataque de tubarão (em 2003), ela continuou surfando e amando ainda mais o esporte. Encontrou novas soluções e desafios no caminho, e foi vitoriosa na grande adversidade.
Mas este caminho deveria ter se tornado espinhoso e muito doloroso? Não. Não para ela.
Por que não para ela?
Porque ela amou incondicionalmente o esporte, superando os próprios limites físicos — advindos da condição de não ter mais o braço esquerdo — e mentais. Quando você ama uma coisa, de verdade, você se interessa por ela.
São desafios de superação, considerados impossíveis para muitos. Mas por que tantos sacrifícios?
No pain, no gain? Sim.
Sem dor, sem recompensa. Sem dor, sem ganhos/resultados.
Houve dor, houve tristeza no caminho, houve luta, mas o amor dela ao esporte (surfe) e à profissão dela, aos mares e oceanos, às ondas, ao sol, à beleza da natureza, superou tudo.
Remando no vasto e misterioso mar, cheio de perigos — mesmo contra a correnteza — o amor dela transbordou, foi maior e mais forte do que a perigosa ladeira da melancolia, na qual ela não se deixou escorregar, como se fosse um carro desgovernado sem freios; ou como se fosse uma âncora pesada na direção do fundo do mar.
Inspirado nesse exemplo de vida, de superação da espécie, no amor e na luta pelo o que se ama, escolhi abaixo, para finalizar, algumas curtinhas sintéticas do livro “MM Thoughts”, da Editora Litteris, que não deixa de ser uma história de superação para mim também:
“NOVO DIA. Hoje, um novo dia recomeça. Você pode ser feliz agora, mesmo sem ter conquistado tudo o que você queria.” (MM Thoughts, p. 69);
“SEMENTES DO BEM. Plante sementes do bem, para colher frutos do bem, leve o tempo que levar.” (ob citada, p 61);
“LEVE. Leve a vida mais leve, antes que a vida te leve.” (ob. citada, p. 18);
“ESCOLHAS & CONSEQUÊNCIAS. (…) Escolha bem para ter consequências boas.” (ob. citada, p. 32);
“UMA FELICIDADE. Há uma felicidade nessa vida: amar e ser amado.” (ob citada, p. 61);
AMOR & PERDÃO. “O que une as coisas é o amor. O que as separa é a disputa. Só o amor constrói, o resto dói.” (ob. citada, p. 34);
“LIFE GOES FAST, BUT LOVE IS THE BEST.” (ob. citada, p. 34). Traduzindo: A vida vai rápido, mas o amor é o melhor.
Portanto, meu caro leitor, faça valer a pena esse hoje.
Não fique aí parado: Lute pelo o que você ama, ame e seja amado.
por Marcio Musa.
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